nos bastidores das sinapses de outubro
o que alterou as reações químicas do meu cérebro esse mês
Não, você não leu errado. Estamos no dia dezoito de novembro e venho humildemente oferecer um inventário dos meus pensamentos de outubro. Mas a vida é assim, misteriosa e cheia de surpresas. O fato é que o mês passado foi muito corrido e que, quando fui sentar para pensar a respeito do que pensei, não consegui achar nada. Cabeça vazia, ecos, feno rolando que nem em filme de velho oeste. Tive que fazer um processo de reconstrução utilizando minhas redes sociais para descobrir o que havia me impactado. Foi um trabalho árduo, mas trago os resultados. Como de costume, irei aproveitar a introdução do mês para deixar a minha nota de repúdio aos siriris, criaturas virginianas e librianas que aterrorizam não só a mim, mas também aos meus móveis de madeira. Em tom oposto, deixo meu abraço caloroso ao Halloween, que anualmente faz muito por nós que crescemos ouvindo música emo e sonhando em ser vampiros.
Vamos a outubro.
5. PINTURA ORIENTALISTA DO SÉCULO XIX
(Talvez Edward Said tivesse uma ou duas coisinhas para comentar sobre esse tópico… mas!)
Nesse último mês, apresentei a minha pesquisa em dois eventos acadêmicos diferentes e resolvi que, para não enjoar dos slides, cada vez seria algo um pouco diferente. Por isso, uma das apresentações tem uma seção inteira sobre pintura orientalista do século XIX e, infelizmente, algumas alugaram um enorme apartamento em minha psique. Trago alguns exemplos abaixo.
4. FRANJA
Como toda pessoa que atinge o ponto de desespero com o cabelo, considerei seriamente a infame franja. A verdade é que me sinto um animal enjaulado tendo que esperar meu cabelo se recuperar de dois anos de descoloração para poder descolorir de novo — o mundo já foi mais justo. Estudei com muito afinco a franja em cabelos cacheados e desisti após duas semanas porque prefiro o ócio a arrumar mais uma parte do meu cabelo temperamental. Culpo a cantora Marina Sena pelo meu breve lapso de julgamento, porque, se ela não tivesse comprado a franja de tic-tac em maio, eu não teria sido cruelmente influenciada agora (num momento vulnerável!) por uma mentira, apesar de no fundo saber que uma franja que fica bonita sem esforço é uma franja que não existe.
3. TRUE DETECTIVE
Penso anualmente na primeira temporada de True Detective (2014–), apesar de o mês das reminiscências variar. Assisti a série pela primeira vez em 2019 durante as férias de julho, atrasada para o momento de hype mas pontual psicológica e intelectualmente, já que se eu tivesse assistido antes, não teria entendido nada. A história é um drama policial que acompanha Marty Hart (Woody Harrelson) e Rust Cohle (Matthew McConaughey), dois detetives da polícia estadual de Louisiana, na investigação do que parecem ser assassinatos ritualísticos em 1995 e os desdobramentos da investigação anos depois. Tudo na história é excelente: o ritmo, a cinematografia, a atuação, a construção dos personagens, o script. Anualmente penso no Rust Cohle e fico embasbacada que um personagem tão interessante possa existir numa série de Homem da HBO. Mas existe! E tudo isso graças ao Matthew McConaughey, que botou sangue, suor e alma no papel, chegando até mesmo a escrever 450 páginas sobre o personagem em preparação. Aproveito para mencionar também a tatuagem putífera no antebraço dele, que literalmente mudou vidas. Enfim. True Detective é muito possivelmente a minha série favorita, o que não quer dizer nada porque sou uma linda mulher. Se o leitor alguma vez ouvir um homem heterossexual proferindo essas palavras, recomendo correr, porque aí sim significará Algo.
2. UMA ENTREVISTA DO MATTY HEALY
Tópico sensível. Eu sei que Matty Healy (vocalista do grupo The 1975) é generalizadamente odiado e entendo os motivos, porém, após atingir níveis de procrastinação nunca vistos antes, cliquei numa entrevista de quase três horas do dito cujo para fugir das minhas obrigações. A verdade é que, mesmo com suas gritantes falhas, acho que Healy sempre teve um entendimento nato do funcionamento da cultura de internet de fandom e que, não só isso, ele sempre conseguiu se articular muito bem a respeito do assunto. Contextualizando melhor, os últimos álbuns do The 1975 foram sobre como a internet altera a comunicação humana no que diz respeito ao amor e a perda, o papel da internet como uma espécie de mediadora da interação. Healy é bem pretensioso sobre o assunto, talvez desnecessariamente — não digo que os álbuns em questão são geniais, mas é verdade que eles trazem algo novo para o cenário musical no qual a banda está inserida. Na entrevista, conduzida por Joshua Citarella (professor da Rhode Island School of Design e pesquisador), Healy ressalta a noção de que shows do The 1975 são também arte performática, explica que as grandes polêmicas envolvendo sua figura partiram dos momentos de arte performática durante os shows (todos roteirizados por Healy e por colaboradores), fala sobre a falta de inovação de na música e discute os livros do pensador marxista britânico Mark Fisher. Sinceramente? É um diálogo excelente, que articula a sensação de estranheza da vigilância de ser uma celebridade e a criação artística no neoliberalismo. Healy fala sobre o financiamento que seu pai recebeu para fundar uma companhia de teatro, sobre o fim do interesse governamental em patrocinar arte, sobre sua mudança de comportamento na internet e a transformação da música em algo sequencial como filmes da Marvel. Ao final, ele diz que o próximo álbum não irá contar sua versão dos acontecimentos com Taylor Swift e os inúmeros cancelamentos, mas que continuará analisando a internet como a grande mediadora das relações humanas, algo que ele estuda quando não está comendo bife cru no palco. Recomendei essa entrevista para Deus e o mundo, apesar de não concordar com todos os pontos levantados, porque acho que ela abre portas para um diálogo genuinamente rico sobre arte, audiência e capitalismo.
Dito isso, ele ainda possui crimes no cartório.
1. PILATES
Quem me viu em outubro teve que ouvir algum comentário sobre pilates, porque outubro foi o mês do Desafio da Prancha no estúdio no qual frequento. Nunca me considerei uma pessoa competitiva, mas saber que um crossfiteiro estava fazendo seis minutos de prancha despertou em mim um desejo de superação, de construção dos braços e do abdômen de Margot Robbie (notoriamente capaz de ficar mais tempo fazendo prancha do que o elenco inteiro de Barbie). Enfim. Dedico essa parte do texto ao exercício que tem me acompanhado por mais de um ano e à todas as daylists do Spotify que me chamaram descaradamente de “princesinha do pilates”.
Por hoje é isso. Nos vemos daqui duas semanas!
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