nos bastidores das sinapses de maio
o que alterou as reações químicas do meu cérebro esse mês
Caro leitor, eu estava de férias. Isso significa que, como alguns influenciadores de newsletter, eu experienciei o que chamam de “vida offline”. Obviamente não por escolha própria, mas sim pela escassez de acesso a internet. Os e-sims internacionais com planos capazes de suprir meus hábitos de estar cronicamente online tinham preços similares aos de uma casa de três quartos numa área nobre de São Paulo. Mas, além de mês de descanso, maio também é mês de pensar. O Sinapses nasceu (foi publicado pela primeira vez) em maio de 2023, dois anos atrás, e é o projeto de escrita mais consistente ao qual consegui me dedicar em toda a minha vida (preocupante, mas sou conhecida por desistir). De todo modo, viva os taurinos!
Vamos a maio.
5. TAYLOR SWIFT
Por algum motivo, os fãs dessa específica loira começaram a especular o lançamento da versão regravada do álbum reputation (2017). Eu, que notoriamente não gosto de nada que tenha sido regravado e que também quero paz da figura de Taylor Swift, fiquei desolada. Hoje descobrimos que fomos livrados das pragas auriculares com o anúncio de que a cantora voltou a ser dona do próprio catálogo. Grande dia! Em uma carta de letras praticamente invisíveis ao olho nu, ela nos conta que foi o pagamento da turnê Eras que lhe deu os fundos para comprar de volta sua música. O que é curioso, pois lembro vividamente que Scooter Braun fez uma promoção relâmpago que tornaria a aquisição possível mesmo se ela não tivesse recebido um tostão após dançar pelo mundo inteiro por longos anos. De qualquer maneira, estou feliz. Por Swift, que agora é dona da própria arte novamente. Por nós, que não ouviremos mais regravações. Agora devo me proteger apenas da ameaça constante de um álbum novo. Como fã desiludida e exausta, meu maior sonho é que Taylor Swift termine o namoro, suma por um ano e reapareça numa foto granulada beijando o Bad Bunny em algum beco de Los Angeles. Aqui pode ser que o leitor argumente que Bunny é decolonial e jamais se envolveria com a princesinha do capitalismo, mas ressalto que ele já foi parte da família Kardashian. Nem tudo que reluz é gente pegando de volta riquezas roubadas!

4. LOIROS
Coincidentemente, resolvi ser loira. Decisão arriscada para uma pessoa que não confia em cabeleireiro — que nada mais é que o mecânico da cabeça. Decisão arriscada para uma pessoa de pele oliva neutra (nem quente nem fria!), conhecida por não harmonizar facilmente com qualquer loiro. Estou à procura da cor ideal, que até agora consiste numa mistura do tom de morena iluminada de Tate McRae com o tom de loiro de Carrie Bradshaw e de uma crina de cavalo que me apareceu no Pinterest. Além de questões técnicas, existem também questões de vibe. Será que minha aura despojada será impactada pela cor dos cabelos? Manterei minha personalidade perante a loirice? Enfim.
3. PALHAÇARIA
No começo de maio, tive um breve hiperfoco na arte da risada. Descobri a existência do Palhaços Sem Fronteiras, pesquisei sobre cursos, assisti curtos vídeos de nomes famosos na área. Tudo isso começou por causa de uma passagem de um livro da Tati Bernardi na qual ela diz que:

Incrível. “Palhaço é uma instituição complicadíssima de atacar”. Mas quem é o palhaço? O que de fato o palhaço faz? O que leva alguém a escolher tal profissão? Qual a conexão entre palhaçaria e licenciatura (digo isso respeitosamente)? É uma arte misteriosa, cheia de nuances. Em minhas pesquisas, esbarrei no site da Casa do Humor, uma escola de… humor. Foi nesse site também que encontrei uma das melhores frases já escritas pela humanidade, de brilhância tão sutil que senti um desespero profundo por não ter escrito tais palavras. No meio de inúmeras piadinhas sem graça (respeitosamente), aparece a seguinte explicação sobre a pedagogia do local: “uma aula totalmente experiencial, que faz o aluno provar o estado criativo do palhaço, através do nariz vermelho, a menor máscara do mundo”. O que é o humor senão a mais antiga máscara do mundo e o que é o nariz vermelho senão a menor máscara do mundo? Viva o palhaço!
2. AUTISMO
Abril foi o mês da conscientização sobre o autismo e eu, ocupada com todos os descarrilamentos do meu mestrado, esqueci. Mas gostaria de falar brevemente sobre o assunto, visto que possuo carteirinha desse sindicato. Nesse texto aqui, o autor Devon Price fala sobre as dificuldades do diagnóstico tardio do autismo, sobre o mascaramento dos traços que geralmente é comum em garotas autistas, sobre a sensibilidade emocional que nos afeta profundamente, sobre milhares de outras experiências comuns da comunidade. Eu fui diagnosticada já adulta, em uma consulta psiquiátrica particularmente traumatizante, e, de modo geral, todas as pessoas com quem me comunico com certa frequência têm ciência do meu autismo. Ultimamente, porém, tenho refletido bastante sobre o que ter ciência significa. O fato é que estruturas sociais não foram feitas para acomodar autistas e que a minha inserção na sociedade implica justamente a supressão do meu autismo. Fora do meu círculo próximo, minha existência se resume, em grande parte, a lembrar pessoas gentilmente que certas coisas me afetam de modo diferente. Um vídeo alto pode me causar dor física. A sensação de uma meia pode fazer com que eu passe uma hora chorando. Planos inesperados podem me causar ansiedade profunda. Conversar com estranhos é uma impossibilidade justamente porque o autismo impacta habilidades de comunicação. Falar em público e expor minhas opiniões é um sofrimento indescritível, geralmente me causando um pânico que dura algumas horas. Funcionar em sociedade é um processo sísifico diário. De modo geral, eu engulo o sapo, faço terapia, tento ajustar minhas reações para que a vida seja mais simples e leve. Mas em maio eu estive (ainda estou?) meio de saco cheio. Quanta conscientização é necessária para que ambientes sejam minimamente inclusivos e para que pessoas adquiram o mínimo de noção? Chega.
1. A VIAGEM
Em maio, viajei para Dublin e Atenas, dois locais completamente diferentes em todos os aspectos imagináveis. Vamos, então, ao guia de viagem forquilha.
Dublin:
Estou contratualmente impedida de falar muito sobre essa experiência sem advogados presentes, porém já adianto que a vista mais linda da cidade é a do avião no momento em que você está confortavelmente ajeitado para vir embora sem previsão de retorno. Sei que inúmeros brasileiros irão discordar e que o local se tornou uma espécie de Terra Prometida. É a vida, quem não tem cão às vezes tenta caçar com hamster. Funciona? Não sei. O fisioterapeuta da minha avó, após ver fotos, ouvir meus relatos e digerir que quinze graus para o irlandês é um delicioso calorzinho, balançou a cabeça e suspirou, “é a caverna de Platão”. Nunca irei esquecer desse momento. Ele, prestes a tomar um gole de café, imaginando Dublin e murmurando “é a caverna de Platão”. Um pensamento que, mesmo que não tão filosoficamente articulado, me ocorreu várias vezes. Nunca tive uma reação tão visceral a um local na minha vida.
Segue meu top cinco melhores coisas para fazer em Dublin.
5. Comprar algo na Primark (que por lá se chama Penneys);
4. Andar de ônibus;
3. Visitar a Galeria Nacional;
2. Visitar o Museu de Arte Contemporânea;
1. Ir embora.
Atenas:
Falar que eu amei Atenas é um eufemismo. É a cidade ideal. Temperaturas equilibradas mais puxadas para o quente, vida agitada de grande metrópole, lindas praias, metrô com linhas razoavelmente extensas e que funcionam bem, lindos museus, história riquíssima, encantadores monumentos, pessoas simpáticas e gentis. Você sente que as coisas estão acontecendo por lá. Enquanto você está calçando um tênis para uma caminhada até a Acrópole, um homem grego veste um terno para ir trabalhar, uma criança saltita de mão dada com a mãe até a porta da escola. Nada parece suspenso. É uma cidade sempre viva. Fomos numa sessão de cinema ao livre em plena noite de semana e lá estavam gregos, troianos, brasileiros, indianos e americanos degustando Aperol Spritz e rindo do filme em preto e branco. Que lugar mágico. Em meu ranking de cidades europeias, Atenas e Paris estão empatadas no número um. Recomendo a visita sem sombra de dúvidas, se me permitem o trocadilho com a caverna.
Segue meu top cinco melhores coisas para fazer em Atenas.
5. Assistir um filminho no Cine Paris;
4. Conhecer o Liceu e os gatos que moram por lá;
3. Visitar o Museu Bizantino e Cristão e o Museu Benaki;
2. Pegar uma praia nos subúrbios da cidade;
1. Passear pela Acrópole.
Por hoje é só.
Nos vemos em junho!